1. |
Antropomórfico
05:57
|
|||
Eu vou negociar em todas as esferas o fim da primavera, eu vou acordar e sentir o meio fio em minhas mãos e pensar depois no que fazer com tudo isso.
Se coloco no bolso, se como ou regurgito,
se negocio meu trajeto com todos aqueles aqui presentes ou se vejo apenas o que quero em minhas possibilidades de ser apenas alguém que quer demais.
Eu vou desintegrar os ossos dos meus ofícios, minha pele, minha carne, minha beleza ingrata, minha tristeza sensata, meu sóbrio traje de alegria que visto em dia de folia e retiro de tempos em tempos pra lavar. Quase sempre está sujo, nunca volta, nunca é certeza sólida de que nunca vou voltar.
Eu vou voltar à aquilo que me veio de tantos em tantos tempos enquanto aguento alguém engasgar no cálice de todas as propostas em que nós devemos escolher para qual iremos nos direcionar.
Me direcionarei, sem pele, sem carne, sem ossos, apenas o cheiro do fósforo há de me guiar, apenas o gosto mórbido pela paz que nunca vai chegar.
Pois este mundo há muito morreu no mármore da loucura, imutável, branco, duro e impossível de penetrar.
Pois este mundo nada mais é do que o nosso lar, nosso bar, nosso cemitério e nosso guia para nos livrar dos assuntos sérios que insistem em se silenciar.
O mundo fala, e como ele eu falo, ninguém ouve, como a Terra, eu canto.
E nessa Terra todo mundo pisa em cima, não importa o pranto, não importa o humus, não importa as propriedades férteis que este solo há de carregar.
O que importa é a madeira modificada, a folha cortada e pintada e printada em forma retangular, que nos faz brilhar os olhos, dilatam nossas pupilas para que os pupilos dos próximos tempos já nasçam sabendo contar e dizer apenas o que lhes será ensinado. Foi assim comigo, foi assim com você, é assim que é.
Assim sempre será contado.
|
||||
2. |
2819
05:49
|
|||
3. |
Caranguejeira
05:00
|
|||
Caranguejeira
Contemplando a minha solidão
Caranguejeira
Abro os pés e fecho as mãos
Caranguejeira
Atrás da cruz se faz o tom
Caranguejeira
Em simbiose com a merda da matilha
Com gosto de patê de baunilha e sangue do meu pau-batom
Caranguejeira
Com a força motriz de um vendaval
Caranguejeira
Com a pele suada em dia frio de funeral
Andou, andou, andou
Chegou a lugar algum
Se pôs em possível pose de patrulha
Não levou nenhum segundo pra acender a fagulha
Minhas mãos leves e serenas se estendem
Pare.
Como uma flor podre que peca em viver
Caranguejeira
Em uma mão trago minhas dores
Na outra guardo no bolso tudo aquilo que tive de bom
Ou mal nenhum vai vir ou nunca mais haverá som
Agora vai, agora vai
Agora foi
Volte 5 casas no jogo da vida
Descubro a farsa, avanço na corrida
Sem sal para brincar de fósforo
Minha cabeça cai no asfalto,
Eu raspo, eu raspo, eu raspo
Caranguejeira
Enrosco na faca de três gumes a porta que se abre em bumerangue
Arroto, três vezes para garantir
Soco, soco, soco
Mordo a merda da minha própria barriga
Saro, corro na ferida
De tempos em tempos a peneira volta
Olha pro lado
Soca, soca, soca
O que passa não me serve mais
O que fica jogo fora
Ouço agora o som lá atrás
Caranguejeira
Choro
Morro
Subo o morro das angústias
Angiosperma que me desculpe
mas agora mudou a fase da Lua
Olho a boca do lobo
Me sorri com dentes tortos iguais aos meus
Minha voz dispara assim como uma navalha
Minha voz não falha
Em cada sílaba, em cada palavra
Controlo tudo
Eu, você, seu mundo desnudo
Agora parto para o ataque
Caranguejeira que me mate
Nasci outra vez
Caranguejeira que me cace
Nasci de novo
Caranguejeira tenta tirar tudo de mim,
Em minha cabeça vem botar seu ovo
Mas por essa ninguém esperava
Minha mente é um labirinto,
Em cada passo em falso
Caranguejeira
Um braço torto,
Outro braço,
A garra é cortada
Uma perna e um falo
Só mais um passo
Não vai restar mais nada
Não vai restar nem um caralho
Nem merda nenhuma
Caranguejeira que se cuide
Caranguejeira
Agora espere a morte
Caranguejeira
Fala, fala, fala
Caranguejeira
Diga tudo a quem doer
E depois não diga mais nada
Caranguejeira
O tom atrás da cruz me salva
Caranguejeira
Abro as mãos e nelas tenho suas patas
Caranguejeira
Aproveite a solidão
Caranguejeira
|
||||
4. |
A Cidade é Pós-Moderna
16:13
|
Streaming and Download help
If you like Em Coma Sintético, you may also like:
Bandcamp Daily your guide to the world of Bandcamp